terça-feira, 30 de setembro de 2008

Veredas


Poesia, prosa, prosear, demo, deus, fala, letra, voz, nós, o sertão-mundo.
Eu mudo, sertão seco, boquiaberto, estupefatisfeito, certo, incerto.
Cada letra, cada vírgula, cada neologismo... estive no nada e no infinito. Enquanto não chego a um nem volto a outro vivo minha travessia.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ao verme que primeiro roeu...


Cem anos. 1908. 2008. Embora a Literatura Brasileira não tenha ficado órfã pois,ironicamente, a morte e o nascimento de alquimistas da língua tenham enroscado-se neste ano, em 29 de setembro de 1908, a travessia entre o nada e o infinito de Machado de Assis completava-se.
Mulato, pobre, brasileiro. Destinado ao nada, ao ostracismo, brasileiro. Obstinado, inteligente, brasileiro. O menino do Morro do Livramento transformou-se no senhor do Cosme Velho. Machado de Assis, porque via por baixo da carne humana, porque enxergava o que o homem trazia preso aos ossos e às vísceras, porque observava a essência do homem, elevou-se da condição de miserável a de maior escritor brasileiro de todos os tempos, de todos os cânones, de todas as formas, de tudo que seja letra.
Machado entendeu, sentiu e viveu como um bruxo. Não desses que procuram espadas, desses que sentam em rios para chorar, desses que se fazem pela televisão , escrevem obviedades copiadas e maculam a memória de quem foi verdadeiramente bom. Viveu como bruxo, alquimista do idioma. Frase-ouro, palavra-re-trans-formada. Trouxe sentido, calor, arte a todas as gerações que tocou e que tocará.
Bentinho, Garcia, Conceição, Capitu, Virgília. Caminham por nossas ruas, imortais e vivos, com roupas de hoje, com idéias de sempre, imutáveis porque da essência humana são a maior metáfora. Candido Neves, Dona Plácida, Quincas Borba. Entram em escolas, pulam em academias, fingem prazer e até morrem todo dia, porque aqui estão, aqui misturam-se a nóe e a todos. O corpo de Brás Cubas apodrecido representa-nos mais que qualquer foto da Amazônia em chamas ou de mortos no Iraque. As noites de almirante que não tivemos, as marcelas que fomos... será perene o olhar debochado sobre nossa condição humana. Continuará perguntando “por que bonita se cocha? Por que cocha sem bonita?” para mostrar-nos a hipocrisia nossa de todo e de cada dia.
Cem anos. Joaquim Maria Machado de Assis, autor defunto. Joaquim Maria Machado de Assis, defunto autor recriando e recriado. Joaquim Maria Machado de Assis, bruxo do Cosme Velho. Cem anos de morto, para sempre vivo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Tiro os óculos
ponho o ósculo
sobre sua boca
sem óculos
com ósculo
um beijo
na boca

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Dúvida


Em que caminhos?

Em que vidas?

Em que dúvidas?

Em que dívidas?
Origem e fim.

Dúvida.

Morte ou vida,

Dúvida.

E nesta rede

Me emaranho, me enredo,

Me enrolo,

Me endivido,

porque da vida,

da dúvida,

da dívida

não sobra mais

que a certeza vaga

da interrogação

no fim de tudo.