Nos idos anos 80, foi produzido um filme que mudaria minha vida de forma radical e definitiva: Sociedade dos Poetas Mortos. Fiquei pensando se algum professor podia dar a seus alunos o senso de liberdade e de questionamento que o Mr. Keating dava a seus pupilos. Alguns anos depois, Ziraldo deu vida a outro modelo de educador que me encanta em Uma professora muito Maluquinha. O respeito que aquela senhorita dedicava a seus alunos, a forma como incentivava a leitura serve de parâmetro para muitos dos meus colegas e seria um ótimo motivo de reflexão para tantos outros.
Acho que tive sorte. Fui aluno de Claeis, professora primária, daquelas que incentivam, dão bronca e carinho e nos fazem ter saudades. Muitos outros marcaram-me. Química até parecia coisa de gente nas aulas de Antônio Carlos. Dalva e Lea Calvão têm um talento genético para mostrar Literatura de forma prazerosa. Aula de Sílvio Renato Jorge e lá iam as naus por mares nunca dantes navegados. Lúcia Helena e o rosto trasfigurado, elevado, semideusa falando de Clarisse. A voz e a letra da África nas aulas de Laura Padilha. O caldo cultural em que imergíamos nas quase mágicas aulas de José Carlos Barcellos. De fato, tive muita sorte.
Infelizmente, muitos colegas esmoreceram, relaxaram, desistiram. É fato: ganhamos mal, somos pouco valorizados e desrespeitados. Mas, é justamente por isso que ainda somos tão importantes. É justamente por isso que a cada dia temos que pensar e repensar, que temos que nos preparar, que devemos assumir a condição e a responsabilidade de educar. É justamente por isso que devemos vivenciar a esperança.
Precisamos de professores-leitores, que considerem os alunos mais que simples nomes em murais ou soldados a serem monitorados. Precisamos de professores humanos, que tenham ou queiram ter filhos porque acreditam mais na humanidade que em sistemas filosóficos, econômicos ou políticos. Em suma, precisamos de mais Mr Keating, mais professoras maluquinhas. Impossível? Não. Em minha vida tive muitos deles. Claeis, Sílvio Renato Jorge, Laura Padilha, Lúcia Helena, Dalva e Lea Calvão, Antônio Carlos, José Carlos Barcellos... todos de carne e osso, mas cheios daquela mágica luz que separa os professores dos ensinadores, todos com aquele brilho nos olhos que faz a gente lembrar deles com carinho durante toda a vida e repetir “obrigado” baixinho a cada dia 15 de outubro.