terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Algumas bobagens que pensei


Renúncia de Fidel = pá de cal sobre o comunismo?
A China é realmente comunista?
Há algum comunista que, no Brasil, não seja empresário, ou não tenha um celular de ultimíssima geração, ou não seja boçal, ou não tenha menos de dezoito anos, ou trabalhe, ou não seja oriundo da burguesia, ou não fume maconha, ou não perca tempo matando aulas na universidade, ou que veja que Fidel foi mais ditador que líder, ou que não perturbe o juízo de quem não quer ouvir bobagens?
Se só Jesus salva, por que continuar com o Corpo de Bombeiros?
Por que ainda sinto o coração parar-palpitar-parar-palpitar-parar depois de ler pela milésima centésima octogésima nona vez na semana um soneto de Camões?
Por que explicar o mundo se é tão melhor observá-lo?
Além da esterilidade, o que leva uma pessoa a não querer filhos?
Pode alguém ser feliz sendo irremediavelmente chato, perfeito, exemplar e irritantemente metódico?
Se Deus existe, por que não ouve as súplicas dos que pedem para eu acreditar Nele?
Um pensamento vale o quanto produz ou produz o quanto vale?
Se para você eu sou o outro e para mim você é o outro, no final, quem é de fato o outro?
Se eu não tinha algo de bom para escrever, por que escrevi isto?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Letra versus número = Deus versus o outro


Sou partidário de que as letras são de Deus, seja ele quem for ou se for, e os números são do outro. Como todo mundo desta sociedade judaico-cristã, ocidental e burguesa, tenho como intertexto, pretexto, contexto, texto e exotexto a Bíblia. Não que acredite nela, mas citá-la dá um ar de verdade ao que se lê e ao que se escreve.
Para a Bíblia, Deus é o Verbo Divino. Percebeu? A Palavra tem tamanha importância que é nela que se manifesta a entidade antropomórfica toda poderosa judaico-cristã. O Verbo se fez carne. A Palavra é sinônimo de lei divina. Enfim, o que é verbal está ligado ao Bem, ao que de melhor se pode ter.
Por outro lado, o que está ligado ao medo, à escuridão humana está ligado também aos números (coincidência?). Ao descrever o número da Besta, a Bíblia desafia-nos a “calcular”. Calcular... isso sim é o anti-Cristo. Repare que o mais apavorante dos livros da biblioteca cristã, o Apocalipse, é envolto por misteriosos e assustadores números. Observe que, segundo São Paulo, a fé, a esperança e o amor são as bases dos valores cristãos: nenhum deles redutível a números.
O interessante é que mesmo o Corão, livro inimigo do Deus Único porque prega só haver um Deus Único, é definido como o pensamento de Deus “enlivrado”, ou seja, o que pensa o Divino em forma de letra.
E eu, meu caro amigo, que sou matemático e acredito em valores numéricos?”, perguntará um cidadão menos esclarecido. Pitágoras, ao definir a matemática, teve de recorrer às letras para que seu pensamento não se perdesse no vácuo eterno dos números. “A matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o universo”. Ou seja, os números são apenas uma tradução do que já foi escrito ou pensado literalmente. Caro exótico, quando a matemática não se entende, não se conhece, não se reconhece ou é incógnita, desculpe-me o trocadilho, usa letras gregas ou não. Tudo na matemática que está para além da matemática transforma-se em letra...
E para que você, exótico ou não, não fique convencido do que falo, peço que pense. Amor, felicidade, realização e vida. Todos substantivos. Porque os números não traduzem sua vida... a menos que você seja uma calculadora. Maquinalmente.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Além


Olhar distante, além da janela, além do pátio da escola. Olhar vago, fugidio. Naquele instante só a visão, um único sentido, uma única sensação. Era os olhos. Todo olhos. Olhava além dos limites, além da janela, além do pátio da escola.
A impressão de já ter visto antes. Deja vu. Sonho de novo, realidade nova, imprecisão na certeza. Aquele rosto estranhamente familiar. Mona Lisa ou Tarsila? Um quadro. Talvez fosse isso. Mas, as cores eram vivas, caminhavam. Estavam além distantes, além da janela, além do pátio, mas estavam vivas.
Diluiu os olhos alguns segundos. As risadas da sala incomodaram a visão. Voltou a ver. Ela parada. Mona Lisa ou Tarsila? Ela olhou. Sorriu. Andou . Afastada. Ainda mais longe. Virou um ponto no infinito bairro além da janela, além do pátio. Um ponto em fuga.
Havia mais meninas, mais coisas, mais vida. Mas, nada interessava. Queria aquele rosto estranhamente familiar. Fechou o caderno. Voltaram os outros dispensáveis sentidos. Sirene soando. Fim de aula. Sono da tarde. Sono da tarde inteira. Jantar. Sono da noite inteira. Sonho: o mesmo rosto estranhamente familiar.
Despertador. Escova de dentes. Café. Ônibus. Inspetor. Sala de aula. Janela. Nove horas. Olhar distante, além da janela, além do pátio da escola. Ela. Mona Lisa e Tarsila. Sorriram. Um percebeu, pressentiu o sorriso do outro. Um quadro, criação visual. O rosto estranhamente familiar. Reconheceu: era o rosto do amor que aprendera nos livros, nas novelas e nas conversas. Sorriu novamente. Ela virou um ponto em fuga na infinita distância além da janela, além do pátio da escola. Fechou os olhos, assumiu os outros insignificantes sentidos e voltou a estudar geometria.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Poema à minha mãe e às outras mães


Antes de minhas palavras,
Ante de minha rima,
Antes de mim.
Feliz porque
“Só as mães são felizes”,
feliz antes de mim.
Hoje na irmandade
De minhas palavras reconheço sua voz madre,
Nem sempre santa,
Mas anterior a elas.
Vão para o papel com meus sonhos,
Com meus absurdos,
Com minhas decepções,
Com minha escuridão.
Escrevo, produzo, uso a razão...
Quanto disto é anterior a mim?
Quanto disto é seu
E, por isso, parte de mim?

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Pessoando


Cresce em mim a fadiga,
O cansaço do Pessoa,
O cansaço do mundo.
Sobre meus ombros pesa
O íssimo, íssimo, íssimo cansaço.
Crucificado, meu ânimo
Jaz na cova do desespero.
Tenho vivo em mim o cansaço
O fortíssimo, poderosíssimo,
Íssimo, íssimo, íssimo
Cansaço do Pessoa.
O que tenho em mim
É, sobretudo, cansaço.