terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Além


Olhar distante, além da janela, além do pátio da escola. Olhar vago, fugidio. Naquele instante só a visão, um único sentido, uma única sensação. Era os olhos. Todo olhos. Olhava além dos limites, além da janela, além do pátio da escola.
A impressão de já ter visto antes. Deja vu. Sonho de novo, realidade nova, imprecisão na certeza. Aquele rosto estranhamente familiar. Mona Lisa ou Tarsila? Um quadro. Talvez fosse isso. Mas, as cores eram vivas, caminhavam. Estavam além distantes, além da janela, além do pátio, mas estavam vivas.
Diluiu os olhos alguns segundos. As risadas da sala incomodaram a visão. Voltou a ver. Ela parada. Mona Lisa ou Tarsila? Ela olhou. Sorriu. Andou . Afastada. Ainda mais longe. Virou um ponto no infinito bairro além da janela, além do pátio. Um ponto em fuga.
Havia mais meninas, mais coisas, mais vida. Mas, nada interessava. Queria aquele rosto estranhamente familiar. Fechou o caderno. Voltaram os outros dispensáveis sentidos. Sirene soando. Fim de aula. Sono da tarde. Sono da tarde inteira. Jantar. Sono da noite inteira. Sonho: o mesmo rosto estranhamente familiar.
Despertador. Escova de dentes. Café. Ônibus. Inspetor. Sala de aula. Janela. Nove horas. Olhar distante, além da janela, além do pátio da escola. Ela. Mona Lisa e Tarsila. Sorriram. Um percebeu, pressentiu o sorriso do outro. Um quadro, criação visual. O rosto estranhamente familiar. Reconheceu: era o rosto do amor que aprendera nos livros, nas novelas e nas conversas. Sorriu novamente. Ela virou um ponto em fuga na infinita distância além da janela, além do pátio da escola. Fechou os olhos, assumiu os outros insignificantes sentidos e voltou a estudar geometria.

5 comentários:

Anônimo disse...

Estive afastada pois fui viajar ,não que isso seja o motivo pelo qual não pratiquei minha leitura,e sim por preguiça,um dos 7 pecados capitais,(risos)!
Não sei ao certo dizer o motivo, a razão, a circunstância, mas essa crônica relembrou-me os tempos em que sentava ao fundo da sala,com fim de concentra-me em aulas de algumas disciplinas,mas era inútil,pois havia algo pra qual minha atenção estava voltada,não sei o que era,mas sabia que ali não estaria o que eu precisava aprender na vida, talvez o que precisasse estaria na outra sala,dando os ensinamentos que custei a ouvir ,mas,antes tarde do que nunca.Acho que essa crônica relembrou os tempos em que eu era o lado mais fraco,em que qualquer manifesto,a perca seria exclusivamente minha.Esse texto muito bem elaborado,conseguiu mais uma vez surpreender-me,e fazer reviver emoções na qual pensei que iria esquecer !

Thamires Gimenez

Anônimo disse...

cara...
tao bom como pareceu aqela hora em q vc me falou aki na frente da escola...
e se vc reparar no desenho, tem um cara com blusa do gap....
eh mt foida a maneira com sem nor falarmos vc adequa o q eui desenho a seus textos...
!!!!

G. Goulart disse...

O comentário da Thamires me fez voltar ao texto e tomar como base da "minha" interpretação a interpretação "dela". E não é que parei, de certa forma, no mesmo "lugar" que ela?

Gostei bastante do "Pessoando".

Salve, hasta!

B, c. disse...

Oi professor, esse texto me fez refletir sobre varias coisas, além de uma simples lembrança. Lembrança que talvés possa ser meu motivo de ler e admirar suas crônicas em especial! Pois elas me lembram de momentos vividos e talvés até revividos!Enfim coisas do cotidiano que retratram através de sua crônicas.Sou meia suspeita pra te elogiar pois te adoro, mas saiba que amei essa crônica como amei todas as outras!

Brena Campos

clarabarreto disse...

Esse é um daqueles textos que nos envolve e nos remete para dentro da historia .
Comecei a ler sem muito compromisso , e num dado momento ja estava me deliciando com cada palavra ,e quando terminou fiz como a plateia do Jô Soares ao fim de uma entrevista muito boa ,fiz um sonoro Ohhhhhhhhhhhh rsrsrsr.
Preciso dizer que adorei ? rsrs
adoro seus textos Alex , sempre que venho aqui viajo um pouquinho neles .
abraços
clara