Tenho um sobrinho que vive contando historinhas. Aliás, nisto ele não difere de nenhuma criança ou político: estes e aqueles vivem inventando histórias mirabolantes. Uns por invenção criativa e engraçada. Outros por falta de escrúpulos. Meu sobrinho, obviamente, por imaginação criativa.
Pois bem. Certa feita, a professora pediu às crianças da turminha do Jardim da Infância que contassem uma história. Algo deste tipo. Eis que, milhões de anos depois, surgiu, vindo da infantil, criativa e fértil mente de meu sobrinho, o ferocíssimo bundossauro. Bundossauro... Bem pensado, meu sobrinho. Bundossauro.
Em tempos como os nossos em que mulheres, depois de tantos anos de luta por respeito e reconhecimento, recebem a terrível carga de desvalorização de, acreditem, mulheres-fruta, mulheres-coisa (atenção: o segundo substantivo especifica o primeiro e, por isso, apenas o primeiro termo é flexionado), não é tão difícil perceber a existência de um animal tão feroz, desprovido de amor próprio e absolutamente vulgar dançado nas televisões, aparecendo em revistas e sites pornôs.
Bundossauro... atraente, crescido, arredondado, aparentemente inofensivo, mas trazendo em si uma carga de preconceito e desvalorização incalculável. Terrível este tal de Bundossauro. Nascido na esperançosa e pueril mente, o nome parece feito sob medida para uma gama de atitudes nada infantis que pretende preservar, através da superexposição do corpo, a mulher subjugada, reificada, coisificada.
Expor, submeter, dominar fingindo adorar... o Bundossauro cumpre seu papel. Bundossauro.... bem pensado, meu sobrinho, bem pensado.