quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O temível Bundossauro




Tenho um sobrinho que vive contando historinhas. Aliás, nisto ele não difere de nenhuma criança ou político: estes e aqueles vivem inventando histórias mirabolantes. Uns por invenção criativa e engraçada. Outros por falta de escrúpulos. Meu sobrinho, obviamente, por imaginação criativa.
Pois bem. Certa feita, a professora pediu às crianças da turminha do Jardim da Infância que contassem uma história. Algo deste tipo. Eis que, milhões de anos depois, surgiu, vindo da infantil, criativa e fértil mente de meu sobrinho, o ferocíssimo bundossauro. Bundossauro... Bem pensado, meu sobrinho. Bundossauro.
Em tempos como os nossos em que mulheres, depois de tantos anos de luta por respeito e reconhecimento, recebem a terrível carga de desvalorização de, acreditem, mulheres-fruta, mulheres-coisa (atenção: o segundo substantivo especifica o primeiro e, por isso, apenas o primeiro termo é flexionado), não é tão difícil perceber a existência de um animal tão feroz, desprovido de amor próprio e absolutamente vulgar dançado nas televisões, aparecendo em revistas e sites pornôs.
Bundossauro... atraente, crescido, arredondado, aparentemente inofensivo, mas trazendo em si uma carga de preconceito e desvalorização incalculável. Terrível este tal de Bundossauro. Nascido na esperançosa e pueril mente, o nome parece feito sob medida para uma gama de atitudes nada infantis que pretende preservar, através da superexposição do corpo, a mulher subjugada, reificada, coisificada.
Expor, submeter, dominar fingindo adorar... o Bundossauro cumpre seu papel. Bundossauro.... bem pensado, meu sobrinho, bem pensado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Fala aí, Alex!

Realmente o Bundossauro é a síntese da mediocridade que se espalhou por esse país como uma praga. Conseguiram subverter a ordem do desejo transformando o fetiche, que é apenas uma parte, em um todo desprovido de sentido. É como a arte abstrata, algo encerrado em si mesmo, sem se referenciar a nada. Mas no caso de uma obra de arte, estamos falando de um objeto e não de uma pessoa. Ou seja, as pessoas estão se coisificando. Eu diria que chegamos ao fundo do poço mas, depois que inventaram a pá, o poço já não tem mais fundo. É sempre possível se cavar mais e mais.

Mas de qualquer modo, parabéns pela iniciativa do blog. Achei muito bacana e espero (me corrija se eu estiver dizendo alguma besteira - escrever para um professor de português é fogo. rs.), que o Textando cumpra sua função semântica de ser uma trama de idéias e questionamentos que se espalhe ininterruptamente.

Um grande abraço!
Marcelo
Prof. Artes - Mariana da Glória)

Ana Marrie disse...

Graças a deus, buda (buda? bem apropriado para a postagem), alá, jeová, oxalá, papai xoxó ou seja lá o que for, alguém e não somente eu, falou sobre as mulheres-coisa!

Achei que eu fosse a única a escrever sobre esse mal que nos assola. Às vezes, por falar demais, eu acho que sou a única a perceber as coisas, ou coisificações.pa

Ana Marrie disse...

Esse "pa" do meu comentário saiu aí porque eu digitei errado o código do comentário. Risos.

Alex, eu gosto do que você escreve. Escreva mais. 8D