terça-feira, 27 de novembro de 2007

Antes de Eva


Deu-se conta do nome que havia escrito no espelho. Em vermelho. O nome. Só então percebeu o que sempre escrevera em cartões, agendas e bilhetinhos afetuosos.
Desde muito nova sentia o fogo arder-lhe entre as pernas. Nunca permitiu que qualquer homem ficasse sobre seu corpo: Possuía-os . deixou-se virgem até os treze, não mais que isto. Encantava-lhe o cheiro do prazer masculino: rondava os banheiros dos adolescentes, aproximava-se dos velhos que saiam dos cinemas de pornografia e pressentia neles o cheiro do esperma emporcalhando as roupas íntimas.
Achou um Adão e deu-se a ele em um paraíso onde era a primeira das mulheres. Este não era Adão, era apenas mais um dos já tantos. O único erro dele era querer cobri-la como um reprodutor faz com sua égua premiada: jamais (nem no abandono das sedas branca- vermelhas de dor e prazer nesta hora), jamais deixou um homem pôr-se por cima. Desde muito nova sentia o fogo, maior este calor que o do inferno, arde-lhe entre as pernas. Este era seu pecado. E o corpo que ali estava não era o de Adão, por quem seu corpo ardia e para quem se entregava sempre, mesmo que a ele, de fato, se entregou apenas uma única dolorosa e prazerosa vez.
Deu-se conta do nome que havia escrito no espelho. O significado de sempre, o significado renovado. Só então percebia...
Homem algum a fez submissa, homem algum a faria... o batom ainda exalava um cheiro adocicado em sua vermelhidão definia o futuro daquela mulher: Lili T. H.. Tavares Honesto. Lili T. H.. Nunca se poriam por cima... O tapa, a mãe caída, o pai louco penetrando o corpo da mãe ali diante da filha...ele por cima sempre... bateu, mandou, gritou, matou... não com ela, eles nunca ficariam por cima.
O corpo na cama. Ele era forte, subjugou-a . Um pedaço de espelho, as sedas vermelhas (saudade das sedas brancas nunca houve), a carne masculina rasgada... não poderia ser mulher agora que fora dominada. Rasgou-lhe a carne e gostou do sabor que a morte exalava. Banho. O corpo. O que sobrava do espelho... escreveu:
A dor ainda vive
Porque é dela que o prazer emana
E é para ela que volta:
Sou minha morte e meu prazer,
Sou minha mulher, sou meu desejo.
Lili T H
Preferiu não morrer. Os homens lhe eram inferiores.

3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente você náo pode ficar com esse textos escondidos na internet.
Adorei o conto!
não sei o que tem ,mas faz com que fiquemos presos a história!
muito bom,muito bom mesmo!

Esse já esta na minha pastinha!

anjinhamattos disse...

Nunca tinha lido um texo seu antes,
mas são todos muito bons Alex.
Todos dos textos me fez ficar com a atenção voltada pra os textos, coisa q nem os textos de Machado fez!
Parabéns...

Anônimo disse...

[i]Achei os textos fortes, um misto de paixão e crueldade, amor e loucura... muito bom .

Agora esperarei pelos textos, com outros sentimentos.

Parabéns!