Deu-se conta do nome que havia escrito no espelho. Em vermelho. O nome. Só então percebeu o que sempre escrevera em cartões, agendas e bilhetinhos afetuosos.
Desde muito nova sentia o fogo arder-lhe entre as pernas. Nunca permitiu que qualquer homem ficasse sobre seu corpo: Possuía-os . deixou-se virgem até os treze, não mais que isto. Encantava-lhe o cheiro do prazer masculino: rondava os banheiros dos adolescentes, aproximava-se dos velhos que saiam dos cinemas de pornografia e pressentia neles o cheiro do esperma emporcalhando as roupas íntimas.
Achou um Adão e deu-se a ele em um paraíso onde era a primeira das mulheres. Este não era Adão, era apenas mais um dos já tantos. O único erro dele era querer cobri-la como um reprodutor faz com sua égua premiada: jamais (nem no abandono das sedas branca- vermelhas de dor e prazer nesta hora), jamais deixou um homem pôr-se por cima. Desde muito nova sentia o fogo, maior este calor que o do inferno, arde-lhe entre as pernas. Este era seu pecado. E o corpo que ali estava não era o de Adão, por quem seu corpo ardia e para quem se entregava sempre, mesmo que a ele, de fato, se entregou apenas uma única dolorosa e prazerosa vez.
Deu-se conta do nome que havia escrito no espelho. O significado de sempre, o significado renovado. Só então percebia...
Homem algum a fez submissa, homem algum a faria... o batom ainda exalava um cheiro adocicado em sua vermelhidão definia o futuro daquela mulher: Lili T. H.. Tavares Honesto. Lili T. H.. Nunca se poriam por cima... O tapa, a mãe caída, o pai louco penetrando o corpo da mãe ali diante da filha...ele por cima sempre... bateu, mandou, gritou, matou... não com ela, eles nunca ficariam por cima.
O corpo na cama. Ele era forte, subjugou-a . Um pedaço de espelho, as sedas vermelhas (saudade das sedas brancas nunca houve), a carne masculina rasgada... não poderia ser mulher agora que fora dominada. Rasgou-lhe a carne e gostou do sabor que a morte exalava. Banho. O corpo. O que sobrava do espelho... escreveu:
A dor ainda vive
Porque é dela que o prazer emana
E é para ela que volta:
Sou minha morte e meu prazer,
Sou minha mulher, sou meu desejo.
Lili T H
Preferiu não morrer. Os homens lhe eram inferiores.
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3 comentários:
Realmente você náo pode ficar com esse textos escondidos na internet.
Adorei o conto!
não sei o que tem ,mas faz com que fiquemos presos a história!
muito bom,muito bom mesmo!
Esse já esta na minha pastinha!
Nunca tinha lido um texo seu antes,
mas são todos muito bons Alex.
Todos dos textos me fez ficar com a atenção voltada pra os textos, coisa q nem os textos de Machado fez!
Parabéns...
[i]Achei os textos fortes, um misto de paixão e crueldade, amor e loucura... muito bom .
Agora esperarei pelos textos, com outros sentimentos.
Parabéns!
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