segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Deus do Andaime


Everaldo via o mundo de cima para baixo. Do andaime, via a pequenez humana. Brincava de Deus. Olhava para baixo e pensava com seus botões velhos. Se quisesse, matava um. Se quisesse, salvava outro. Determinava, de seu olímpico andaime, os destinos dos transeuntes. Era Deus.
Era bonito. Irresistível, dir-se-ia. Aquelas donas, sabendo que ele, Everaldo da Rosa, podia vê-las despiam-se no desejo de pertencerem ao seu tão famoso harém. E Everaldo cobiçou e possuiu cada uma delas em sua pobre casa, no Morro do Cão.
Sempre acordava com a cabeça doendo. Lembrava-se da cachaça na birosca de seu Antônio e da boa trepada que imaginava dar com a dona daquele prédio no Bairro dos Ricos, solitário nas noites no Morro do Cão.
Cinco horas. Everaldo deu-se ao luxo de levantar mais tarde. A cabeça ainda doía. Fácil de curar: reza ante de sair e cachaça antes de pegar no trabalho.Aqui embaixo ele só mais um entre os tantos peões. Subiu em seu andaime olímpico. Virou Deus de novo.
Ela estava lá novamente. Nua. Sabia que Everaldo da Rosa podia vê-la. Ele passa do andaime para o prédio e vai em direção à dona (pernas grossas, seios firmes, linda demais). Beija-lhe. Cobre-lhe a boca, possui a fêmea. Era isso que ela queria. Ela gozou, contava mais tarde no bar de Antônio. Pediu para eu bater, me chamou de filho da puta e tomou um tapa na venta. E, quanto mais apanhava, mais gozava.
Sob os olhares dos amigos de copo, um misto de incredulidade e inveja. Tirou a camisa e mostrou as marcas de unhas por todo o corpo.
No dia seguinte, acordou de novo à cinco. Tô ficando mal acostumado. Pôs a roupa de trabalho nova na bolsa. Se a dona quisesse, teria mais.
Chegou à obra com ar de Deus que só tinha quando estava no andaime. Os colegas assustados. Bando de babacas.virou-se e viu o chefe. Everaldo, tem um pessoal aí querendo falar com você. Polícia. Você está preso!
Na delegacia, Everaldo contou toda a história do estupro seguido de homicídio, mas insistiu no fato de que a dona esperava-o. Naquela mesma noite, sentiu a dor que a dona sentira e foi ver o mundo de outro andaime. Comenta-se que virou Deus.

4 comentários:

Nilson Tacito Silva Martins disse...

viagem?
legal...
adulto demais pra mim...
hhe
e...
serio...
se existe algum fã numero um desse blog, eu devo ser o numero 3 ....

Anônimo disse...

eu sou o numero 1!!!!!!!!!!

Unknown disse...

Fã do blog vocês podem até ser, mas dos textos e do autor sou eu!
(risos)

Agora falando do texto ,esse conto me surpreendeu ,estava esperando algo totalmente diferente no final, pensei que ele iria encontrar outra mulher e é preso.
Que cara safado.

Surpreendente assim que é bom!

Alex Fabiani disse...

Thamires, Pâmela e Nilson:
Contando com vocÊs, tenho três admiradores de meus textos.