terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Teoria da involução da espécie


Sempre fui pessimista em relação à humanidade. Via nos aniversários de um ano algo de fúnebre: fugia aquele pequeno das estatísticas ao não morrer antes do primeiro ano.
Acreditava ser o homem a involução de um animal. Na verdade, o macaco, ao meu ver, era só um elo de ligação entre o homem e suas protozoárias necessidades. Amebas com braços e pernas. Amebas que matam amebas.
Questionava cada faculdade humana e considerava o raciocínio a mais fraca delas. Eu odiava a humanidade e seus deuses.
Em um desses momentos de autodestruição filosófica, vi aproximar-se uma jovem tomando, com volúpia, um picolé de manga.bonita. poderia ser a redenção da humanidade. Não sei que instinto ou que hormônio me levou a dizer um oi. Quase um ganido, mas que foi respondido com uma dulcíssima voz e um amantíssimo sorriso. E um telefone anotado em um pequeno pedaço de papel.
O raciocínio é a mais fraca habilidade do homem. Enquanto Amanda esteve-me próxima, não consegui pensar. Agarrei-me ao pedaço de papel com a voracidade de um animal faminto. Agradeci a Deus a oportunidade. Lembrei que era ateu. Agradeci ao deus dos ateus, por via das dúvidas.
Liguei no dia seguinte. Marcamos um encontro. Perfumei-me. Mania besta essa de disfarçar o cheiro. Ou mais besta seria a mania de ter um feronômio sexual artificial enchendo-se de perfume? Perfumei-me.
Oi, Charles. Beijou-me a boca. Não houve conversa. O raciocínio é a mais fraca das faculdades humanas. Entramos em um desses motéis de oitava categoria e copulamos intensamente em um quarto cheirando a mofo.
Converti-me à religião de amar aquela mulher. Adorava Vênus, Afrodite ou qualquer outro deu que me permitisse amá-la. Cultuava o corpo de Amanda.
Passei a acreditar em tudo. Parei de trabalhar. Fui demitido. Por Amanda valia a pena. Comprei tudo que faltava ao meu mal cuidado apartamento de solteiro, cético e herege. Nada podia faltar para Amanda. E ela mudou-se para meu apartamento de fiel e crente.
E acabou o dinheiro. Amanda precisava de dinheiro e sexo para ser feliz. Vendi o carro, a casa em cabo frio, os dólares. Por obra divina, surgiu-me a oportunidade de continuar a manter a Catedral de Amanda. Levaria uma encomenda à Europa. No destino receberia a metade do valor e, no retorno, o restante.
Polícia. Abre a mala. Cocaína pura, chefe. Algema ele, Brás.
Esperei a visita de Amanda. Primeiro dia. Uma semana. Um mês. Julgamento. Três anos. Bom comportamento. Sem mágoas, voltei para casa. Veria o rosto de Amanda. Ela estava perdoada. A vergonha não poderia ser dela, mas minha.
Cheguei a casa. Ainda tinha as chaves. Entrei pé ante pé. Charles! Dor. Ver Amanda sendo possuída por um velho decrépito derrubou-me ao inferno. Sonhei com aquele corpo cada dia. Sobre ele um velho decrépito.
Queria o quê? Eu precisava de dinheiro e sexo. Ele me deu tudo.Saí. O raciocínio é a mais fraca habilidade do homem e a covardia a mais forte. Sentei-me no meio fio e comecei a orar pedindo ao deu dos ateus que me restituísse o que mais amava e perdera: o ódio pela humanidade.

4 comentários:

Unknown disse...

Caraca que foda! =O
adorei esse texto!rs
só você!
beijo
{saudade grande}

Anônimo disse...

nossa Alex q texto...
muito bom!
melhor q todos os outros...
beijos

Unknown disse...

caraca,gostei desse texto Alex.
nem me atrevi a postar alguma coisa em alguns dos outros textos.
preciso lê-los de novo e se dissesse q gostei seria mentira pq não entendi.
como poderia gostar do q não entendo?
quero q saiba q sou um leitor assíduo do blog,além de divulgá-lo.
abraço

Cicil disse...

Nossa... Você retratou bem o seu ódio pela humanidade... Parabéns por este conto, um dos melhores do Blog, eu acho q vc deveria colocar ele na página principal p/ as pessoas q não leram (como foi o meu caso q achei esse conto por acaso) terem a oportunidade de ler, pq é muito bom !!!!

Abraços do amigo Sérgio ou Serginho.